Sob a aparente calmaria do par BTC/USD, correntes profundas estão redesenhando silenciosamente o mercado de criptomoedas.

Águas paradas são, de fato, profundas. À primeira vista, pode parecer que o mercado de Bitcoin vive um momento de tranquilidade. Há meses, o BTC/USD vem se mantendo dentro de uma faixa relativamente estreita, e a volatilidade caiu para o menor nível em dois anos. No entanto, sob essa superfície serena, há uma intensa movimentação. O Bitcoin está mudando de mãos, transformando de maneira estrutural o mercado de ativos digitais.

De acordo com cálculos da Flipside Crypto, em 2020, apenas 2% dos endereços controlavam impressionantes 95% da oferta circulante de Bitcoin. Esses endereços — conhecidos como "baleias cripto" — incluem mineradores, fundos offshore e carteiras anônimas. Essa concentração extrema fazia com que até pequenas vendas desses gigantes provocassem grandes oscilações nos preços. A 10x Research lembra que, em 2018 e 2022, saídas equivalentes a 2% e 9% das carteiras dessas baleias resultaram em quedas de 74% e 64% nos preços do BTC/USD, respectivamente.

Nos últimos 12 meses, esses grandes detentores liquidaram cerca de 500 mil bitcoins, um volume equivalente a US$ 50 bilhões. Contudo, todo esse capital acabou migrando para mãos institucionais — ETFs, fundos estratégicos e empresas do setor. Nos últimos cinco anos, a empresa de Michael Saylor, por exemplo, acumulou cerca de US$ 65 bilhões em reservas de Bitcoin. Desde a criação dos fundos especializados, os ETFs já captaram aproximadamente US$ 50 bilhões em ativos.

Dinâmica do fluxo de bitcoins de várias carteiras

De acordo com a 10x Research, investidores institucionais absorveram cerca de 900.000 bitcoins ao longo do último ano. Atualmente, essas instituições detêm aproximadamente 4,8 milhões de moedas, o que equivale a cerca de um quarto dos 20 milhões de bitcoins em circulação. Esses participantes costumam operar de forma mais disciplinada e racional, o que vem influenciando profundamente o comportamento do mercado. Não é surpresa, portanto, que, à medida que a estrutura do mercado se transforma, sua própria natureza também evolua.

Dados da Deribit mostram que a volatilidade implícita de 30 dias do mercado de criptomoedas caiu para o nível mais baixo em dois anos. O bitcoin começa a se comportar cada vez mais como um ativo tradicional, para o qual um ganho anual de 10% a 20% é considerado normal. Trata-se de um ritmo bem mais modesto do que a impressionante valorização de 1.400% registrada em 2017, que projetou o bitcoin definitivamente para o mainstream dos investimentos.

Assim, as mudanças na estrutura do mercado de criptomoedas reduziram a probabilidade de grandes picos ou quedas abruptas. Já não faz mais sentido comprar Bitcoin apenas porque o preço está subindo. Mas há uma boa notícia: o ativo digital sobreviveu às crises e agora está migrando cada vez mais para as mãos de investidores institucionais. Suas dinâmicas estão se tornando mais previsíveis, baseadas no apetite global por risco e no comportamento de outros ativos. Isso significa que o par BTC/USD está consolidado e veio para ficar no longo prazo. Já não há motivo para temer que esses tokens sejam apenas um esquema passageiro ou prestes a desaparecer.

Do ponto de vista técnico, no gráfico diário do Bitcoin, ainda existem riscos de formação de um padrão Cunha em Alargamento. Um rompimento abaixo de 110.500 dólares, seguido de uma queda sustentada, seria visto como um sinal de venda. Da mesma forma, se o BTC/USD cair abaixo do valor justo em torno de 107.500 dólares, poderia ser acionado um padrão de reversão secundário conhecido como 1-2-3.